sexta-feira, 24 de julho de 2015

Devaneios noturnos

Original de http://www.quasesertao.com/2011/07/em-defesa-do-devaneio.html

Hoje eu sinceramente não estava com vontade de escrever aqui, mas ultimamente tenho passado tantas noites em claro, tanto tempo acordada levada por devaneios e pensamentos tão aleatórios, tão fúteis e importantes ao mesmo tempo que achei melhor escrever.
Há dias que tento esvaziar minha mente e apenas dormir em paz pra conseguir seguir um novo dia como sendo novo e não com os cansaços e lamentações do dia anterior. E isso vem ocorrendo há tanto tempo que simplesmente estou em débito com meu sono.
As vezes eu tento esconder meus sentimentos, minhas lembranças, tento recalcá-los, arquivá-los em algum lugar do mais difícil acesso em minha memória, que já não é tão boa ultimamente, mas simplesmente não consigo. E como se não fosse o suficiente ruminar as lembranças e traumas de anos, todos os dias uma nova coisa acontece e entra para a lista.
Tenho ficado muito ansiosa ultimamente. Frequentemente me vejo de punhos e dentes cerrados em uma atividade mental e emocional intensa, totalmente dispersa do que acontece ao meu redor.
Sinto que estou no limite de algo que desconheço e temo ao mesmo tempo.
Tudo mudou tão rápido ao meu redor, de uma hora pra outra e sinto que fiquei estagnada não só no tempo mas em meu próprio mundo.
É como se eu estivesse o tempo todo lutando contra mim, como se estivesse no cabo de guerra mais tenso do mundo, como se a minha vida dependesse do equilíbrio dessas duas eu e como se, para isso, as duas tivessem que usar sua força total, sem possibilidade de ceder em momento nenhum. Como se as duas estivessem lutando pela minha vida e, ao mesmo tempo tentando derrubar a outra.
As vezes penso que seria magnífico se pudéssemos ter um botão de desligar, ou até mesmo de standby. Melhor ainda, poderíamos ter uma alavanca no cérebro que desligasse automaticamente quando seu uso fosse excessivo, dando um tempo de descanso antes de religar, como aquela alavanca do chuveiro que tinha em casa. Isso resolveria tantos problemas. Não guardaríamos bronca de uma pessoa, muito menos descontaríamos essa bronca em outro. Dormiríamos felizes e acordaríamos renovados, sem dor de cabeça ou excesso de preocupação. Mas, infelizmente, não é assim.
Infelizmente somos vítimas e prisioneiros de padrões, do tempo, do dinheiro, da opinião alheia, dos nossos princípios, dos nossos medos, inseguranças e desejos. Infelizmente, por mais que tentemos ser livres, não o conseguimos em todos os aspectos necessários, sempre nos prendemos a algo ou alguém.
Antes de fazer 18 anos, sonhava com essa data, com o dia em que finalmente seria livre, independente. Mas naquela época, pensava que independência era poder ir ao médico sozinha, ter minhas próprias decisões e não ser mais mandada. Além de não ter conseguido algumas coisas das que citei, percebi que ser independente, ser livre abrange muito mais do que apenas esses conceitos. Aliás, ao contrário do que eu pensava, depois que fiz meus 18 anos, me tornei mais enjaulada e controlada ainda. Quando te classificam como adulta, te dão objetivos, expectativas, funções e obrigações que você nunca imaginava que deveria ter. A proteção acaba. Sua inocência, mesmo que ainda exista é considerada como algo mal, desnecessário, inexistente em você; afinal, você é um adulto, já sabe de tudo e qualquer tipo de curiosidade agora será visto como ignorância, burrice.
As vezes penso que essas duas Sabrinas no cabo de guerra são o que eu sou realmente e o que querem que eu seja, são minha infância e minha vida adulta, meu passado e o meu presente, nenhuma das duas sendo totalmente má ou totalmente boa, mas em certo aspecto, homogêneas.
Pra ser sincera, não gosto de nenhuma das duas, mesmo as duas estando do meu lado do jogo, e é esse que eu penso ser meu maior problema.
Sempre fui altruísta, sempre gostei de ajudar e a maioria do que recebi em troca foi abandono e desprezo, raiva e indiferença. Não que eu quisesse receber algo em troca, é que simplesmente eu não queria MESMO receber algo em troca.
Eu sempre me importei muito com os outros, simplesmente pra fugir de ter que me importar comigo mesma. Eu me conheço no mesmo nível que me desprezo: totalmente. E é por isso que estou solteira, distante do resto do mundo se querem saber. Sou incapaz de amar eu mesma, imagine outra pessoa.
Mas eu tenho tentado e isso já é uma vitória pra mim. Pelo menos as noites mal dormidas têm me dado algum fruto. Tenho mais tempo com minha companhia, tenho aprendido várias coisas que admiro em outras pessoas para conseguir me admirar e, principalmente, me orgulhar de ser eu.
Isso infelizmente é um passo pequeno demais ainda, mas já é um começo, não é?
Não espero realmente que compreendam esse texto, eu o fiz pra tentar chegar as minhas conclusões e organizar um pouco as idéias enquanto o sono não vem. Funcionou!
Obrigada mais uma vez Spooks e, é claro, eu.


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