Olá Spooks, tudo bem?
Percebi que toda vez que venho aqui eu me explico. Sempre me desculpo e falo o porquê de eu estar sumida, o que me levou a "desaparecer" por um tempo do blog, etc. Mas a partir de hoje não. Se eu tiver que falar o que vem acontecendo na minha vida, será porque eu quero desabafar, e não por explicações, porque eu já sou crescida e não devo explicações a ninguém. Isso mesmo, estou rebelde, essa é a fase, me deixa kkk.
Falando nessa fase, ô fase hein?
Não me considero mais criança, nem tampouco adulta. Tipo aquela música da Sandy "Sou jovem pra ser velha e velha pra ser jovem". Não consigo me encaixar em nenhuma dessas classificações. Lembrando que "adolescente" não é uma opção. Passei bem longe dessa fase e mesmo assim ainda estou no meio.
Mas a culpa de tudo isso não é minha. A culpa real é da sociedade. Essa mania estranha de criar padrões, querer classificar e agrupar tudo, colocar tudo em caixinhas específicas separadas dentro de outras caixinhas que estão dentro de outras e mais outras. Confesso que para um computador isso é ótimo. Fazer pastas e classificar todos os seus arquivos, por categorias, datas ou importância é ótimo, facilita a vida, mas fazer isso com pessoas, isso acho que já é demais. Você exagerou sociedade.
Somos pessoas, seres mutáveis, racionais. Definir o que é ou não adequado para "crianças até 4 anos"; "crianças de 5 a 12"; "adolescentes", "adultos", "idosos", etc, é arcaico e ridículo. Idade mental é coisa que não existe em minha opinião. Definir o que é uma atitude ou comportamento "adulto" por exemplo, ou ditar como ou o que a pessoa tem que ser ou fazer algo em determinada idade é simplesmente problemático. Percebo que a cada dia, mais e mais, isso está ficando menos e menos lógico.
Crianças de dois anos já andam, falam e mexem no celular enquanto adultos de quarenta anos ainda compram action figures, bebês reborn e empinam pipas na rua.
Pra quê ficar definindo estereótipo de idade?
Eu tenho 23 anos, fico frustrada de não conseguir atingir as metas de adulto e também frustrada por não poder fazer minhas coisas de criança. Me deixem ser criança, me deixem ser quem eu sou ou pelo menos quem eu quero ser!
Essas expectativas acabam com a gente. Com 23 já era pra eu estar casada, com ao menos um filho, um emprego que pagasse ao menos dois mil por mês, um carro, deveria estar pagando meu apartamento, ter terminado a faculdade e trabalhar na minha área. Como é que se consegue isso?
Hoje, tudo o que eu tenho é um emprego público que, pasmem, me consome demais devido ao trabalho excessivo que eu tenho que fazer – pois é, a propaganda do "funcionário público que ganha bem e não trabalha quase nada" foi uma simples ilusão – e que, mesmo com função ("promoção", por assim dizer), ainda me deixa com um salário menor que dois mil reais; a certeza de que não tenho condições para ter um filho; a dúvida eterna do que eu quero ser quando crescer – embora eu já tenha crescido há tempos –; revolta; frustração; negligência com a minha saúde; uma bicicleta; um colchão, uma escrivaninha e uma televisão (pra se um dia eu tiver uma casa); mais dúvidas e menos certezas.
Infelizmente essas expectativas geram frustração em qualquer um que não as consegue realizar. Nos tornamos adultos frustrados, correndo atrás do vento, de algo que é praticamente inalcançável. São poucos os que conseguem e é desanimados não ser um deles.
E como se não fosse ruim o suficiente, ainda te julgam se você sente vontade de sair correndo chorando pro colo da sua mãe, se resolve se distrair com seus jogos da infância ou assistindo animações. Te etiquetam de "bebezão" se você gasta todo seu dinheiro com guloseimas ou brinquedos de algo que você gosta; te chamam de inconveniente quando você tem uma dúvida, curiosidade ou questão que aparentemente pros outros não deveria ser perguntada; te ditam o que vestir; te falam o que vai ou não te fazer mal; como você tem que se comportar. Adultos são julgados o tempo todo por coisas que fazem e coisas que deveriam fazer, é um saco. Acho que é por isso que não consigo me considerar adulta, pois simplesmente não consigo aceitar essas condições. Acho ridículo acharem que eu sou menos responsável ou menos capaz de algo só porque gosto de usar tênis e mochila o tempo todo ou ter brinquedos na minha mesa, por ser brincalhona e preferir filmes de animação; comprar ursinho de pelúcia e colecionar alguns brinquedos do Mc Donald's. Eu consigo ser os dois ao mesmo tempo e não gosto de ser encaixada em um padrão ou outro por causa de ações individuais. Eu não sou uma única ação, um único gosto, eu sou uma pessoa, um INDIVÍDUO, e não aceito ser caracterizada dessa forma. Cada pedaço de mim forma esse todo que sou EU, e meu eu é um todo cheio de pedaços (uns maiores, outros menores) das pessoas que passaram na minha vida.
Acho que por isso que a essa altura as pessoas ficam em crise. A gente começa a questionar tudo, pensar e repensar tudo a nossa volta e no nosso interior, principalmente no nosso interior e isso é muito tenso. Essa crise de identidade, quando você percebe que pode definir não quem você é, mas quem você quer ser e a dificuldade de decidir isso. Somos como um brinquedo de sucata, reaproveitando pedaços, traços, comportamentos e gostos das pessoas com quem vivemos direta ou indiretamente para construirmos essa coisa que chamamos de personalidade, uma coisa que, por mais que seja feita de muitas pessoas, é um produto final único, individual e complexo. E é essa complexidade que as vezes não é compreendida pelo outro. Querem que eu tenha definido quem eu sou. Só que eu conheço pessoas a todo instante e revejo e redefino quem eu sou e o que eu gosto e quero numa velocidade muito rápida e num movimento constante. Na essência eu posso ser a mesma pessoa, mas em relação ao resto é sempre mutável. Por exemplo hoje minha fruta preferida é abacaxi, o que eu odiava há doze anos atrás; os filmes de terror que eu amava antes hoje eu não assisto mais; antes eu tinha certeza que queria ser professora, hoje tenho certeza que não quero ser e assim por diante. Quase todas as certezas que eu tinha há anos atrás eu não tenho mais e as que eu tenho hoje talvez não existam daqui alguns anos.
Hoje, eu tenho uma necessidade imensa de satisfazer a Sabrina de 12 anos. Comprei os tênis que eu sempre quis naquela época, o videogame, os brinquedos... Me levo a todos os lugares que eu queria ir com aquela idade; ainda ouço todas as músicas que gostava naquela época, ou seja, vivo o presente baseado no meu passado, porque essa é a forma que eu aprendi a viver. Estou realizando hoje os sonhos que eu tinha quando tinha lá os meus doze anos, porque com essa idade, era tudo o que eu queria.
Ninguém me explicou o que era ser adulto de verdade e o que isso implicaria. Não teve uma transição, um treinamento, um cursinho, um manual ou prova que fizessem pra saber se eu estava apta mesmo a "adultecer"; simplesmente fiz 18 e jogaram responsabilidades, expectativas e regras no meu colo e falaram: "se vira!". Horrível, né? Meu corpo cresceu e minha mente está perdida ainda tentando entender que merda é essa e onde eu estou. Crescer não foi facultativo pra mim e, gostaria de ter tido a opção de escolher se que queria isso pra mim ou não, sem julgamentos. As coisas acontecem muito rápido, num ritmo frenético e louco e sem muitas explicações. Queria processar quem inventou isso.
É tanta preocupação... Você tem que definir seu futuro e ao mesmo tempo já ir construindo ele. Não tem tempo pra planejamento, é ir pensando e fazendo, senão não dá tempo. Não é como a borboleta que, depois de lagarta ainda tem um tempo pra processamento antes da metamorfose, é pá pum, um estalo de dedos e você já é considerado adulto sem nem perceber.
Acho que talvez essa seja minha dificuldade, planejar o futuro. Eu não tenho tempo nem pra viver o agora, imagine o depois. Já pensou se eu planejo tudo e não consigo chegar lá? E se eu conseguir chegar, o que faço depois? Acho que hoje entendo porque pensam que jovens são inconsequentes e acham que não vão morrer, mas não é bem isso. No meu caso, como jovem, penso que o futuro é muito incerto pra gastar meu tempo todo pensando nele ou me privar de algo hoje por causa dele. Acho por exemplo que, já que a idade vai me privar de comer besteiras no futuro, tenho que aproveitar enquanto posso, da melhor forma possível, porque, ao contrário do que pensam, eu tenho certeza de que vou morrer e não sei quando, por isso tenho que fazer hoje tudo o que posso, aproveitar tudo, me dar o que eu puder, pois não sei o amanhã. Talvez esse ponto de vista meu seja incomum, mas pra mim faz todo o sentido. O que tiver que ser vai ser, simples assim. Não vou me restringir a ser feliz – é o único objetivo concreto de vida que eu tenho –, nem que seja comendo uma simples coxinha com cremily, mesmo sabendo que vai me fazer mal depois. São essas minhas pequenas felicidades que me fazem conseguir seguir em frente a esse futuro tão incerto quanto o amanhã.
PS: Podem admirar, essa não é a Cristina Ricci, sou eu mesma de Vandinha/Wednesday Addams, #medeixaser.